Os Investidores nas Sociedades Desportivas sob avaliação
A Liga Portugal prosseguiu a realização de webinares no âmbito da promoção do Thinking Football Summit 2022, evento que vai decorrer na Super Bock Arena-Pavilhão Rosa Mota, entre 18 e 20 de novembro de 2022. A 7 de março foi avaliada a participação dos Investidores na Sociedades Desportivas.
O primeiro painel juntou Diogo Nabais, Assessor do Secretário de Estado da Juventude e do Desporto, Miguel Ribeiro, Presidente do FC Famalicão SAD, Guilherme Müller, Diretor Geral do Estoril Praia SAD, Paulo de Mariz Rozeira, Diretor Jurídico da Liga Portugal e contou com moderação do jornalista António Barroso, d’O Jogo.
As Sociedades Desportivas e os seus Investidores foram, como já referido, o tema central, tendo todos os intervenientes realçado a enorme importância de atrair bons investidores para o futebol português, algo que só acontece “quando os clubes não estão num contexto SOS de sobrevivência”. Destaque também para o fenómeno da regulação das apostas desportivas e da preocupação em eliminar por completo o “match-fixing”, um fenómeno que deixa o desporto-rei muito mais sombrio e que “afasta os bons investimentos”.
SOCIEDADES DESPORTIVAS E INVESTIDORES
Diogo Nabais, Assessor do Secretário de Estado da Juventude e do Desporto
“Há coisas a fazer, mas não devemos diabolizar os investidores. Sei que há um medo generalizado por parte dos adeptos, mas basta pensarmos no exemplo da Premier League, onde a esmagadora maioria dos clubes conta com grandes investidores. Já tivemos maus exemplos, mas temos vindo a melhorar do ponto de vista legislativo e regulamentar. O cenário ideal é criarmos condições para os investidores serem soluções credíveis e não soluções quando as coisas já estão bastante complicadas.”
“A intervenção de 2013, na qual o Guilherme participou, foi uma das grandes transformações das Sociedades Desportivas. O que é facto é que, nos últimos anos, entraram mais investimentos no nosso país. Em 2017, houve necessidade de intervir na lei ‘integridades nas competições desportivas’, com vista a melhorar alguns enquadramentos.”
Miguel Ribeiro, Presidente do FC Famalicão SAD
“Não me identifico minimamente com a palavra investidor. O FC Famalicão tem na sua esfera de propriedade 15% do clube e 85% da Quantum Pacific Group. Existe, sim, um investimento. Nós investimos nos nossos vários departamentos, na nossa equipa de futebol, para a nossa operação ser rentável e sustentável.”
“Acreditamos neste país e nesta Liga. E acreditar significa regulamentar, regrar e poder competir dentro de uma competição sustentável e saudável. O FC Famalicão é uma grande empresa em Famalicão, o Vitória SC é uma grande empresa em Guimarães, o SC Braga é uma grande empresa em Braga e assim sucessivamente. A indústria do futebol está para durar e é para evoluir. Sendo que a base de tudo isto é a paixão. São as pessoas. Esta cidade vive o FC Famalicão. Mas é claro que também somos uma empresa que vive perante um conjunto de regras.”
“A chave desta nossa operação foi uma boa relação de base do clube com a SAD. E esta boa relação é essencial. Algo que ajuda é não serem criadas ligações em contexto SOS. Considerando a vontade e a visão de fazer crescer o FC Famalicão, isto foi algo pensado e assente numa visão. Não foi um recurso de resgaste, algo que leva, frequentemente, a episódios menos felizes. Fizemos um clube de Primeira na Segunda. E isso foi logo muito importante para o nosso crescimento. Isto é uma indústria de futebol. Dentro das quatro linhas está a nossa operação, que dentro dos nossos gabinetes fazemos tudo para a melhorar.”
Guilherme Müller, Diretor Geral do Estoril Praia SAD
“O Estoril Praia encontrava-se numa situação bastante difícil em 2010. E a entrada desse investimento na altura permitiu à SAD do Estoril Praia ganhar um corpo que não tinha. O investidor foi, assim, uma entrada muito importante. Temos de arranjar formas de afastar os maus investimentos, sendo que os bons investimentos são extremamente importantes para elevar o panorama do futebol português. O Estoril Praia, que tem uma excelente relação com o clube fundador, é um desses casos e tem um investidor que sabe perfeitamente qual é o papel do Estoril na comunidade e respeita isso e a filosofia de responsabilidade social que assumimos.”
Paulo de Mariz Rozeira, Diretor Jurídico da Liga Portugal
“Falar de investidores é colocar uma questão muito relevante em termos de transparência, equilíbrio competitivo e estabilidade das competições. A partir da temporada 2014-15, todas as Sociedades Desportivas passaram a identificar aquela pessoa individual que detém um interesse qualificado em determinada Sociedade Desportiva. Aquilo que nós temos entendido na Liga é que temos uma realidade muito positiva.”
TRANSPARÊNCIA E INTEGRIDADE
Diogo Nabais, Assessor do Secretário de Estado da Juventude e do Desporto
“Devemos apertar um pouco mais e clarificar algumas questões. Nós estamos basicamente a tentar promover a transparência das competições, melhorar o enquadramento da idoneidade dos investidores, não permitir incompatibilidades e clarificar o enquadramento relacionado com os clubes e as Sociedades Desportivas.”
“Os investimentos devem ser soluções credíveis e não soluções necessárias. Quando ocorrem em situações de sobrevivência, não existe a mesma capacidade negocial. O caminho passa por continuar a melhorar o nosso enquadramento. E as pessoas têm de perceber melhor as razões que justifiquem uma intervenção estatal. Embora eu saiba que o futebol tem um impacto mediático que mais nenhuma indústria tem, existem cerca de 48 horas semanais de debate futebolístico na nossa televisão.”
Guilherme Müller, Diretor Geral do Estoril Praia SAD
“É a discutir estes temas que podemos evoluir e desenvolver ainda mais o futebol. Esta Liga é apetecível. Acredito profundamente que é possível encontrarmos um caminho para a transparência e integridade."
“Precisamos de algumas correções desde o tempo em que foram feitas alterações em 2017. O futebol mudou e a Liga tem de continuar a definir regras que complementem aquele diploma. Passado um período de tempo, é normal que exista uma adaptação. Com naturalidade e sabendo que a realidade evoluiu.”
Paulo de Mariz Rozeira, Diretor Jurídico da Liga Portugal
“Foi anunciado hoje de manhã que a Liga Portugal deve ter uma palavra a dizer, nomeadamente uma habilitação legal para escrutinar os investimentos que aí vêm. Não só as pessoas em questão, mas sobretudo avaliar os projetos de investimento. Se são projetos sustentados e a longo prazo, e se irão melhorar, de facto, as Sociedades Desportivas.”
“Nós somos muito exigentes e queremos sempre melhorar. Mas temos uma realidade muito positiva. Temos aqui na reunião dois excelentes exemplos. Temos sempre a vontade de fazer melhor e, por outro lado, queremos garantir que estes casos de sucesso não sejam apenas sorte. O futebol português criou condições e tem instrumentos para todos os projetos serem na linha destes que acabamos de dar como bons exemplos.”
APOSTAS DESPORTIVAS, MATCH-FIXING E CENTRALIZAÇÃO DOS DIREITOS TELEVISIVOS
Diogo Nabais, Assessor do Secretário de Estado da Juventude e do Desporto
“As apostas desportivas começaram a ser reguladas em meados de 2015. Um setor que tem vindo a crescer de forma monumental. Cada vez mais, vemos o futebol, infelizmente, associado a fenómenos de crime. E mais do que fenómenos de branqueamento de capitais, refiro-me ao ‘match-fixing’, que exige um escrutínio cada vez maior. Sendo que o escrutínio e o rigor também atraem os bons investidores.”
Miguel Ribeiro, Presidente do FC Famalicão SAD
“A centralização dos direitos televisivos é o início de um caminho e não podemos pensar que vai ficar tudo resolvido. Vai, sim, permitir a internacionalização, o acesso a uma maior receita e criar mais valor na nossa competição. E quanto maior for a nossa receita, mais capazes estaremos de investir.”
Guilherme Müller, Diretor Geral do Estoril Praia SAD
“Estes novos fenómenos são preocupantes. Mais do que uma regulação que imprima mais rigor, algo que irá afastar os bons investidores é se virem em Portugal um local que se não se preocupa com ‘match-fixing’, com apostas ilegais e com a pirataria que perturba os direitos de transmissão televisiva. O futebol português é apetecível. Mas temos todos de parar um bocadinho para pensar de que formar vamos continuar a atrair o bom investimento.”
“A Liga Portugal tem sabido colocar em prática a autorregulação. E, juntamente com as Sociedades Desportivas, têm credibilizado o futebol português.”
Paulo de Mariz Rozeira, Diretor Jurídico da Liga Portugal
“É evidente que a autorregulação não regula tudo. Mas a Liga Portugal, no exemplo do ‘match-fixing’, tem agravado as consequências. É um risco tremendo para quem cometer esse delito.”
Aceda à síntese da segunda parte do webinar aqui.
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