Último painel do dia contou com as intervenções de Emanuel Medeiros, Global CEO da SIGA; Miguel Poiares Maduro, Professor Universitário, e José Francisco Neves, Membro do Comité Executivo da Allianz. Moderação da sessão esteve a cargo de Nuno Dias, comentador desportivo
O terceiro painel do dia juntou Emanuel Macedo de Medeiros, Global CEO da SIGA, Miguel Poiares Maduro, Professor Universitário, e José Francisco Neves, Membro do Comité Executivo da Allianz. Foram debatidos mecanismos de transparência e integridade do futebol, assim como a relação com os patrocinadores.
Emanuel Macedo de Medeiros, Global CEO da SIGA
Recuperar a reputação
“Estamos num momento crítico, decisivo. A área do desporto foi abalada pela crise de saúde e económica que se seguiu. O declínio das finanças foi notório, em toda a indústria do desporto. Havia uma crise de liderança, reputacional, no seguimento do FIFA Gate, do qual o futebol nunca conseguiu verdadeiramente recuperar, e esta crise veio agravar o que já se fazia sentir. A confiança dos adeptos, dos consumidores ainda não foi recuperada. Cabe ao desporto, que passa uma mensagem que quer trilhar um caminho de maior rigor, transparência e integridade, agir e mostrar resultados. Haverá um rating rigoroso para avaliar a boa governança. A reputação é extremamente importante".
Regulamentação
“O nosso objetivo é analisar problemas e criar uma massa crítica que possa alavancar essa integridade pretendida. Tivemos a iniciativa, o rasgo de avançar com uma solução, pela via da regulação, de boa governança e lançamos mãos à obra, com o único sistema de rating independente que tem o apoio de toda a indústria. É uma garantia que os adeptos, os governos, os patrocinadores passam a ter um mecanismo que lhes transmite confiança. Mesmo em 95, no caso do FIFA Gate, os únicos que romperam com aquela cultura de gangster foram os patrocinadores. Muitas tentativas foram feitas, mas o que fez a OCDE, o que fez a EU? Gostava que existisse essa comissão independente da EU, juntem-se a nós. É verdade que o desporto confere uma visibilidade que não há em mais nenhuma atividade, mas tem de se regenerar".
“Não queremos que os patrocinadores cortem as suas relações, mas que pressionem as entidades, os governos para regularem e não serem coniventes com situações menos claras".
Miguel Poiares Maduro - Professor Universitário
Reformas
“Sem um conjunto de incentivos externos fortes, assegurar reformas no futebol tem uma capacidade limitada. O Match Fixing é um flagelo. A ‘Operação Zero’, conhecida como ‘Operação Mãos Limpas’ implicou dois principais árbitros da Bélgica e é surpreendente como as pessoas são corrompidas por tão pouco, às vezes por um par de bilhetes".
“O modelo e governo de futebol e as fragilidades económicas no pós-pandemia, bem como a crescente assimetria competitiva suscitam dificuldades na criação das reformas necessárias".
“O futebol parece estar cartelizado na esfera do poder, temos de rever os mecanismos de escrutínio do poder".
“A aplicação seletiva das regras leva a que se perca confiança. Não há regras que garantam a independência dos mecanismos de fiscalização. Há um conflito sistémico que o futebol não conseguiu ainda resolver, quer na UEFA, quer na FIFA. NO PSG, tivemos a FIFA a mandar os seus advogados a contrariar a leitura feita pelo comité independente da própria FIFA".
“Só teremos reforma se ela existir a partir do exterior. Tem de haver mecanismos que regulem práticas de bom governo. A única alavanca que existe para uma reforma é a pressão que possa existir por parte dos sponsor".
UE ao comando
“Costumo dizer que, depois do tempo que passei na FIFA, não devia gostar tanto de futebol (risos)".
“Enquanto adeptos, devíamos ser todos mais exigentes. Pode não ser prática de crime, mas há muitas ações que são moralmente reprováveis. Terá de haver uma entidade reguladora forte, e acho que virá da UE. Penso que vai haver muito mais pressão para a intervenção da UE, até no seguimento de episódios como a mudança do Messi para o PSG. Não podemos ser críticos da Superliga e ver o que se tem passado na Champions, mesmo em termos de quebra de competitividade interna de forma benigna. Está a ser criado esse fosso que é suposto ser pretendido combater".
José Francisco Neves - Membro do Comité Executivo da Allianz
Futebol deve a marcas íntegras
“Depois de ouvir o Emanuel e o Miguel, não sei se não devo fugir (risos). Primeiro, sou um apaixonado do futebol. Ainda acreditamos que, no fim, o futebol é positivo para as marcas, onde todas querem estar. Temos vindo a estudar esta questão da integridade e dos benefícios ou perdas reputacionais que vêm do futebol. A área de conferências de Imprensa foi aproveitada para discutir e escrutinar uma polémica do futebol português, à margem de um jogo da Allianz CUP. Combato todas essas mensagens mais negativas, mas quando a discussão for cada vez mais racional, se calhar deixa de fazer sentido as marcas associarem-se ao futebol".
“Temos sete estádios importantes, temos uma ligação muito a um clube, que é o Bayern Munique e quero acreditar que o futebol também deve algo a marcas íntegras como a Allianz".
Pessoas do futebol têm que “ganhar juízo”
“Se houver reguladores com força, não haverá problema. Não há relação entre patrocínios de clubes e de provas".
“Os dirigentes do futebol português, tornaram-se pessoas muito importantes, a nível social. Era importante que percebessem também que aquele espaço, na Allianz CUP, é para falar de futebol, que temos de ter outra atitude. Quase dá vontade de chamar os presidentes e dizer: ‘Tenham lá juízo! Se não, deixamos de patrocinar!’ Muitas vezes, quem faz pior ao futebol são as próprias pessoas do futebol, que não os jogadores".
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