Pedro Proença, Presidente da Liga Portugal, e Javier Tebas, Presidente da La Liga, debateram questões estruturais da indústria do Futebol
O painel de abertura do webinar destinado ao lançamento do Thinking Football Summit 2022 contou com um verdadeiro painel de luxo: nada menos que Pedro Proença, Presidente da Liga Portugal e Javier Tebas, Presidente da La Liga.
Em discussão estiveram temas absolutamente estruturantes do panorama do Futebol mundial, nomeadamente questões relacionadas com a sustentabilidade das Ligas europeias, a importância da centralização de direitos televisivos e, ainda, a inevitável questão da Super Liga europeia.
Futebol de hoje em dia, refém dos mais poderosos?
Pedro Proença, Presidente da Liga Portugal
“A Liga portuguesa tem-se confrontado com a força do dinheiro e a incapacidade de ligas como a nossa, onde o desenvolvimento do talento dos jogadores tem-se esbatido contra a força económica das grandes ligas internacionais. Logo, não há capacidade de competir com essas ligas, dado que se coloca em causa o modelo associativo e, consequentemente a impossibilidade de competir com as cinco maiores ligas europeias.
Tem sido uma luta muito intensa. Javier Tebas tem tido a capacidade de perceber que o futebol mundial não se desenvolverá sem as ligas pequenas ou médias. Desde 2016 que a liga portuguesa tem um memorando de entendimento com a liga espanhola, pois reconhecemos em Javier Tebas ser capaz de liderar este processo de equilíbrio. Temos combatido juntos nos calendários internacionais e numa maior abertura às pequenas e médias ligas. Javier Tebas está sempre disponível para poder pensar connosco naquilo que são as ligas mundiais”.
Javier Tebas, Presidente da La Liga
“O mundo é refém do dinheiro. Que riscos temos no futebol atual? A primeira questão é que há um campeonato muito grande (Premier League), a Liga espanhola e a Bundesliga surgem logo de seguida, depois a Liga italiana e a francesa e a seguir a Liga portuguesa. A Premier League tem mais 30% de negócio do que a espanhola, mas não vou pedir dinheiro à Premier League para ser competitivo. Temos de preocupar-nos com as competições nacionais para que a nossa liga seja competitiva economicamente. Assim, quando a Liga portuguesa tiver a venda centralizada dos direitos audiovisuais, vai estar mais equiparada às outras ligas, caso contrário não é tão competitiva”.
“O mundo do futebol tem de ser visto numa tendência de 5/6 anos, tendo em conta o fair play financeiro. Em França metade dos clubes estão arruinados, em Itália igual. As equipas alemãs e espanholas não são menos competitivas do que as outras, mas são mais sustentáveis. Com o controlo económico não se pode comprar tanto, mas queremos clubes sustentáveis economicamente. Um dos problemas das ligas europeias é que são competitivas para poucos, há que distribuir melhor o dinheiro e os maiores clubes tem que receber menos”.
Centralização direitos televisivos?
Pedro Proença
“É a chave do sucesso. A grande medida dos últimos 20 anos é o decreto-lei que prevê a venda dos direitos audiovisuais pela Liga portuguesa. Javier Tebas conseguiu fazê-lo em Espanha e revolucionou a La Liga. Este decreto-lei peca por 10 anos de atraso, assim como a forma como trabalhamos este produto e como são colocados á disposição por quem acompanha na configuração de um novo plano estratégico. Temos um horizonte para 2027-28, mas queremos antecipar essa venda dos direitos audiovisuais. É necessário adaptar a maneira de consumir o futebol. A Liga portuguesa esta em 6.º lugar no ranking da UEFA mas, se nada for feito, daqui a um par de anos vamos descer mais”.
Superliga europeia?
Javier Tebas
“Sou contra a Superliga. É um projeto com a filosofia dos grandes clubes, que querem mandar em tudo e não repartem dinheiro com mais ninguém. É uma barbaridade em termos de gestão e um projeto que já esta morto. Para mim não existe. No entanto, os grandes clubes querem dominar o mundo do futebol e isso é muito perigoso. Trará muitas perdas económicos para as ligas europeias e trata-se de um debate ético na indústria do futebol. Há que parar com isto. Os grandes clubes lucram muito e o dinheiro não pode ser só para alguns. Há que implementar novas formas de governar as competições e também temos de nos preocupar com os jogadores sérvios, romenos ou macedónios, por exemplo, para que as suas Ligas também cresçam, com mais direitos laborais”.
Pedro Proença
“Que modelo de sustentabilidade vamos querer na próxima década? O que esta em causa com a Superliga é um nicho que fica com grande riqueza, mas, essa sim, tem de ser repartida. A grande chave do sucesso no futebol é a capacidade de conseguir ter sentido de solidariedade entre as Ligas do top-5, mas também por todas as associações que compõe a UEFA. Se alimentarmos os mercados de elite, onde não temos capacidade de chegar, então nem no futebol teremos sucesso desportivo. Há que implementar o princípio do mérito, no qual a questão desportiva se sobreponha à questão financeira, como aconteceu quando o FC Porto foi campeão europeu. É necessário um futebol solidário e onde todos possam ter acesso”.
Convergência de ideias?
Javier Tebas
“O futebol tem de ser uma indústria sustentável, que cria milhares de postos de trabalho e todas as famílias merecem que cuidemos o melhor possível deste desporto. Já avançámos muito e vamos continuar a avançar e a colaborar com a Liga portuguesa. Quanto mais forte for a Liga portuguesa, melhor será para todos. Se conseguirmos que sejam fortes, menos talentos sairão ou ficarão mais tempo nas suas equipas, ajudando-as a tornarem-se mais competitivas. Para além disso, com o modelo de controlo económico, com a venda centralizada dos direitos audiovisuais e a obrigação de ter uma visão a medio/longo prazo pela sustentabilidade económica, o progresso irá acontecer”.
Pedro Proença
“É uma mudança de mentalidade. Perceber que todas as ligas periféricas também sejam fortes, porque se forem, a Liga espanhola também será. Temos feito coisas extraordinárias juntos, por isso quero deixar uma palavra de agradecimento a Javier Tebas, que se tem mostrado sempre disponível em ajudar-nos com as nossas dificuldades. A centralização dos direitos audiovisuais vai acontecer, devido a este intercâmbio de ideias. Tem de existir um controlo financeiro e regras apertadas para que os clubes as possam cumprir, tal como uma visão a médio/longo prazo, que ultrapassa o resultado do fim de semana. Se conseguirmos queimar algumas etapas neste processo, rapidamente chegaremos ao sucesso. Queremos estar nas cinco principais Ligas europeias e Javier Tebas vai ajudar-nos muito nesse sentido”.
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