Segundo painel do dia contou com Helena Pires, Diretora Executiva da Liga Portugal; Sergio Sánchez Castañer, Diretor de Produção TV – La Liga; Enric Solano, Deputy Director Enertika e José María Cervantes, Diretor de Infraestruturas de Estádios – La Liga
No segundo painel do webinar realizado pela Liga Portugal, integrado no ciclo de promoção do Thinking Football – evento que irá ter lugar em novembro de 2022 -, os oradores convidados foram Helena Pires, Diretora Executiva da Liga Portugal; Sergio Sánchez Castañer, Diretor de Produção TV – La Liga; Enric Solano, Deputy Director Enertika e José María Cervantes, Diretor de Infraestruturas de Estádios – La Liga. Esta sessão, à semelhança do que se registou no primeiro painel, contou com moderação da Jornalista Cláudia Lopes.
Em debate estiveram vários assuntos estruturantes relacionados, predominantemente, com a melhoria do produto televisivo – uma temática que tem merecido a melhor atenção da Liga Portugal em prol do Futebol Profissional -, nomeadamente através do desenvolvimento das infraestruturas.
Futebol como espetáculo de entretenimento – Helena Pires, Diretora Executiva da Liga Portugal
“Na Liga assumimos isso de forma insiste, conforme diz o nosso lema: O espetáculo é o nosso compromisso. Esta direção da Liga tem feito uma grande aposta nas infraestruturas desportivas. Estamos na antecâmara da centralização dos direitos televisivos e o produto televisivo começa a ser cada vez mais importante. Estamos a ajudar os clubes nesta questão, não só para melhorar a imagem televisiva, mas porque entendemos, também, que é extremamente importante para quem pratica Futebol, nomeadamente no que concerne à condição do terreno de jogo. É um tema que não vamos deixar cair, bom para o espetáculo desportivo, e no qual temos de fazer um grande investimento, como no caso da iluminação dos estádios”.
Importância do Produto televisivo – Sergio Sánchez, Diretor de Produção TV La Liga
“Em Espanha não tivemos a sorte que estão a ter em Portugal, de trabalhar antecipadamente uma série de questões fundamentais para conseguir um bom produto audiovisual. No nosso caso não tivemos esse tempo. É muito importante aproveitar para preparar uma série de questões fundamentais.
Essa lista citada pela Helena é um bom exemplo, tal como a colocação das câmaras nos estádios. O mais importante é mesmo que os clubes estiveram muito conscientes da importância de trabalharem todos juntos para melhorar o produto, ao longo desse processo, e é fundamental haver essa noção de que o produto televisivo deve ser o mais homogéneo possível. No nosso caso, isso ainda não acontece na totalidade, porque há diferentes níveis de iluminação ou colocações de câmaras pelas diferentes equipas. É importante que todos percebam a grande vantagem e que trabalhem para contribuir para o produto conjunto da Liga Portugal”.
Importância das condições dos estádios - José Maria Cervantes, Diretor de Infraestruturas de Estádios La Liga
“Para alterar o conceito, é necessário que todos os clubes percebam o seu papel. Todos devem ser exigentes consigo próprios e tentar ao máximo que todos os estádios tenham as mesmas condições, naquilo que se pretende ser um processo o mais homogéneo possível.
O grande objetivo passa por toda a Liga ter a mesma qualidade ao nível de iluminação e posições de câmaras, até porque é muito importante o que se vê mas, não podemos esquecer, aquilo que está por trás desse processo, uma vez que é o todo que assegura uma qualidade standard ao produto”.
Importância da iluminação no Futebol - Enric Solano, Deputy Director Enertika
“Um jogo de futebol deixou de ser apenas um acontecimento desportivo. Passou a ser um espetáculo. Os estádios estão num estado onde o espetáculo se vê dependente, também das condições de iluminação.
Nesse sentido, a La Liga fez um trabalho muito bom, o que nos permitiu apresentar claras melhorias no nosso produto a curto prazo”.
Centralização de Direitos Televisivos – Helena Pires
“Temos esse desafio e compromisso. Começámos a fazer uma grande aposta, e estou a focar-me mais nas questões infraestruturais, mas não esquecemos a importância dos adeptos e outras questões igualmente fundamentais.
Por isso, temos uma equipa em campo a prestar serviços de consultoria aos clubes.
Eles perceberam a mensagem, e estão muito recetivos a receberem a nossa ajuda. Há claras diferenças de dimensões, e a verdade é que estamos todos a evoluir. Quem está no Futebol há muito tempo consegue perceber a melhoria que está a ser levada a cabo. Temos muito para fazer, mas vamos dando novas ferramentas aos clubes, como no caso das transmissões, onde atualmente todos os jogos já são transmitidos.
Estamos a dar passos muitos seguros, e os nosso Grupos de Trabalho, onde estão os clubes, têm vindo a juntar esforços para conseguir apresentar ideais chave para o projeto.
Temos tempo, meios, e os próprios clubes têm muita vontade. O facto de estarmos na antecâmara da centralização também mudou o paradigma, mas é evidente que ainda há muita coisa para fazer”.
Comparação entre o Futebol e a Fórmula 1 – Sergio Sánchez
“É verdade que a forma de consumo do produto vai mudando. O novo espetador está habituado a ter um segundo ecrã, e, por isso, hoje em dia qualquer espetáculo de lazer é um concorrente direto do Futebol.
E o Futebol não pode ficar atrás. Tens de garantir o standard alto para poder competir com o resto das ofertas desportivas e de lazer. O perfil de espetador vai-se alterando e rejuvenescendo, e o Futebol tem de se adaptar a essa maior aproximação do espetáculo, que se consegue criando novas condições de acesso ao espetáculo.
Essa é uma evolução permanente. Pusemos em andamento a câmara cinematográfica, que permite pôr em primeiro plano imagens premium de jogadores que marcam golos ou estão em destaque. Traz mais emoção, sentimento ou interatividade, o que requer um plano de câmaras homogéneo, uma vez que essas câmaras têm de estar nos sítios exatos, bem-acondicionados, o que requer uma transformação nos estádios.
Mas, não podemos esquecer que o espetador no estádio também é muito importante, até porque contribui para a imagem do estádio, e a verdade é que se o clube pretende ter seguidores e criar escola tem de ter uma imagem muito limpa e cuidada.
E é nesse sentido que são os clubes quem aprova as normas para cada época, o que é muito meritório, pois impõem uma grande autorregulamentação a si próprios, pois, se um não cresce e colabora, a verdade é que o produto não melhora. Um dos regulamentos prevê a obrigatoriedade de haver uma percentagem de ocupação superior a 70%. Como tal, permitimos uma norma de venda de bilhetes livre para cada clube, bem como um certo prazo para que cada clube se adapte às novas exigências e normas”.
Importância do financiamento na questão da iluminação – Enric Solano
“Evidentemente, a iluminação não é nada se não estiver apoiada por infraestruturas em condições, pelo que este pack é de extrema importância para os clubes, que, naturalmente, têm uma possibilidade de financiamento, até porque o Futebol é um espetáculo muito importante que chega a muitas empresas e, como tal, tem imensas empresas a quererem associar-se.
Além disso, todos sabemos que o grande objetivo é oferecer um produto homogéneo, pelo que é importante haver esta flexibilidade para com os clubes. Atualmente, a tecnologia LED é aquela que oferece uma qualidade ideal para aquela que desejamos nas transmissões, pois permite uma poupança energética que se paga praticamente por si própria, sendo por isso um investimento com muito retorno”.
Transição para a tecnologia LED e competição desportiva com os principais campeonatos da Europa – Helena Pires
“Esse caminho já está a ser trilhado, como é o caso do Portimonense que, no final deste mês, vai inaugurar este novo sistema. A polivalência deste tipo de iluminação é completamente diferente”.
“Relativamente à segunda questão, gostaríamos muito que acontecesse rapidamente e esse é o nosso grande desafio. Neste momento, temos de pensar numa centralização e internacionalização da Liga. Mas este primeiro passo será necessariamente o mais importante, até porque o nosso trabalho está a ser direcionado nesse sentido. Temos muita gente de mercados exteriores que não conseguem chegar ao nosso Futebol, com muita pena nossa, e temos de mudar isso urgentemente”.
Parceria com a La Liga – Helena Pires
“Temos uma parceria extremamente importante com a La Liga, onde temos muito ainda a aprender com eles e a partilhar, pelo que este contacto relativo à melhoria de infraestruturas e Produto TV é muito importante.
Nesse sentido, temos tido reuniões frequentes, até porque queremos avançar o quanto antes para o modelo da centralização. Todos os nossos clubes já perceberam o cuidado que temos com o serviço de consultoria, bem como a necessidade de arranjar outras ferramentas para potenciarmos o nosso produto. No final, o objetivo é conseguir uma Liga mais competitiva e muito mais valorizada”.
Transmissões televisivas da La Liga – Sergio Sánchez
“Temos uma running order definida. Em televisão produzimos antevisões aos jogos. Há muitos operadores internacionais que têm a La Liga e oferecem ao seu espetador todo o conteúdo que geramos. Começamos uma hora antes, e vamos oferendo diferentes conteúdos como o aquecimento, a chegada ao estádio, gráficos, estatísticas, entrevistas ou highlights.
No final realizamos ainda uma super flash, bem como entrevistas interiores e conferências de Imprensa. Cada segundo é muito importante em televisão e os clubes estão obrigados a cumprir os standards de tempo, até porque há horários escrupulosos a cumprir”.
Disciplina dos clubes neste processo na La Liga – Sergio Sánchez
“Geralmente a maioria é disciplinada. Mas é importante ser pedagógico e dar-lhes formação. Todo o staff do clube envolvido nas operações de jogo deve estar consciente que está a trabalhar para melhorar o produto, e, como tal, deve ter o mindset de cumprir a sua parcela em prol do espetáculo.
Os clubes entenderam bem esta mensagem. Nem todos são iguais e cada um leva o seu tempo, mas até chegámos a um ponto em que até são pró-ativos para sugerir melhorias”.
Diferenças de estádios – Enric Solano
“Existem evidentemente e creio que na Liga portuguesa essa diferença será ainda mais visível.
No que concerne à iluminação, nem todos têm de estar na categoria máxima, mas a tecnologia LED garante um investimento que tem retorno e oferece condições muito boas, permitindo, inclusivamente, ir realizando upgrades ao longo do tempo. E é importante ser ambicioso, porque pode sempre haver a necessidade de proceder a melhorias.
Creio que, apesar de tudo, esta não será uma questão muito problemática, porque com a centralização esta venda será feita idealmente em pack, o que será benéfico para todos, incluindo os clubes mais modestos”.
Desafios das infraestruturas – José María Cervantes
“Um estádio estar perfeito é um conjunto de muitas coisas. Podemos ter muito boa iluminação, mas se as câmaras não estiverem bem posicionadas, ou se o público não estiver corretamente sentado, bem como a questão das sombras em jogos com horários diurnos, podem prejudicar seriamente o produto televisivo.
Posto isto, é, de facto, uma soma de muitas coisas, e o mais difícil não está em conseguir que o estádio do Benfica tenha uma boa perceção, mas sim o todo dos estádios da Liga portuguesa.
O importante é que todos estádios tenham boas plataformas ou técnicos competentes, assegurando um conjunto de situações relacionadas com a produção, que deixem o estádio o mais acolhedor e capaz possível. Para tal, é de extrema importância definir um padrão para todos, que permita definir um mínimo para todas as equipas ao nível de todas estas questões estruturais. Foi assim que iniciámos este processo na La Liga”.
Caminho a percorrer pelos clubes – Helena Pires
“Há uma coisa que estamos a conseguir. Já há premissas que os clubes têm de cumprir para participarem em determinadas competições. Caso do FC Vizela, que teve de fazer um conjunto de alterações para participar na Liga Portugal bwin.
Por isso mesmo, estamos a ter estas reuniões para preparar os clubes. O relvado foi a base, e foi por aí que começámos, mas a verdade é que já não existem tantos problemas como antigamente, uma vez que está tudo regulamentado e os clubes já sabem quais são as regras do jogo.
Temos ainda os exemplos do FC Famalicão, Moreirense FC, SC Covilhã ou Leixões SC que, recentemente, começaram a fazer apostas na melhoria dos estádios. Um processo que busca essa uniformidade, e esse trabalho está a ser feito juntamente com a nossa equipa de consultoria.
Tudo aquilo que estamos a fazer está a ser desenvolvido no sentido de internacionalizar a nossa Liga. Não é fácil, mas está a ser feito com passos firmes e a breve prazo vamos conseguir ter infraestruturas muito mais ajustadas e adequadas, até porque este é um processo que requer tempo e a verdade é que a imagem que temos atualmente é já muito superior aquela que tínhamos há uns anos atrás. Nesse aspeto, saúdo também a criação da Liga 3. Foi um passo muito importante para diminuir o GAP que existia até agora entre o Futebol Profissional e as competições não profissionais”.
Novo Santiago Bernabéu – José María Cervantes
“O objetivo é que o Santiago Bernabéu tenha eventos de todo o tipo durante a semana, como nos grandes estádios. O relvado pode ser recolhido para ser tratado, podem existir melhorias na iluminação e na segurança. O standard, portanto, é muito alto, num projeto muito ambicioso. É bastante difícil de desenvolver, mas o objetivo do Real Madrid é que seja uma casa para todos com muitos e variados eventos.
Por outro lado, queremos preparar um estádio que tenha boa harmonia, bons ecrãs, que seja acolhedor, moderno e bonito, porque é o que mais vende. Que seja cómodo e com boas animações antes do jogo. Quanto melhores condições, mais pessoas virão ao estádio”.
Importância da regulamentação – José María Cervantes
“A recomendação é ter ideias claras e paciência. Há uns anos só um clube cumpria e agora todos cumprem os regulamentos. Na segunda divisão, dos 22, 14 cumprem. Se todos contribuirmos, será bom para todos e o objetivo vai ser alcançado a médio prazo. Além disso, é necessário que exista uma regulamentação uniforme e ter paciência para que os clubes a cumpram”.
Conselhos para a Liga Portugal – Sergio Sánchez
“Que o objetivo da Liga portuguesa não seja ter Cristiano Ronaldo ou Lionel Messi, mas que seja competitiva e um bom produto. Ter bases consistentes e permanentes, que assegurem o nível de visibilidade da competição, independentemente dos jogadores que estejam na prova. Criar uma base estável, com características definidas e que façam com que sejam autênticas, porque as ligas não têm de ser iguais. Mostrar-se agradáveis visualmente e ter características próprias é diferenciar-se perante um espectador de outro país”.
Desafios futuros da Liga Portugal – Helena Pires
“Temos algo muito bom, que são os clubes regionais, nomeadamente na Liga Portugal SABSEG. É muito importante que não seja só um jogo de Futebol, há que proporcionar aos adeptos melhores condições, tal como maior ligação com a comunidade, com escolas e que haja segurança nas bancadas. Este é o papel social do Futebol para a sua realidade e é um trabalho que a Liga Portugal tem feito, nomeadamente com os nossos Embaixadores.
A pandemia também veio trazer estes novos desafios e outras perspetivas, mas temos um longo caminho pela frente: retoma dos adeptos, proporcionar bom Futebol e com todas as condições nos estádios, porque os adeptos fazem muita falta. Um espetáculo de Futebol na televisão é mais valorizado com bancadas cheias, por isso os clubes e os operadores de televisão têm de dar as mãos para que tudo seja melhor.
Temos muito a aprender com estas Ligas, nomeadamente em infraestruturas para melhorar o nosso produto televisivo. Temos consciência de que os clubes também querem fazer essa aposta para valorizar a nossa Liga. Há que trabalhar com parceiros e operadores televisivos e seguir os bons exemplos e as boas práticas. Queremos internacionalizar a competição e pôr em prática a questão da centralização dos direitos televisivos”.
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