13 de Outubro de 2021

Webinar Thinking Football: “Planeamento Integrado de Segurança Médica”

Primeiro painel do dia contou com o orador Morten Boesen, Médico da Federação Dinamarquesa de Futebol

Em mais um webinar realizado pela Liga Portugal, integrado no ciclo de promoção do Thinking Football – evento que irá ter lugar em novembro de 2022 -, o primeiro painel, intitulado “Planeamento Integrado de Segurança Médica”, contou com o orador Morten Boesen, Médico da Federação Dinamarquesa de Futebol e moderação da jornalista Cláudia Lopes.

Um nome de peso nesta área e que ganhou um maior destaque após o Campeonato da Europa de 2020, onde a sua intervenção foi absolutamente decisiva para salvar a vida do jogador Christian Eriksen.

Futebol devia estar mais preparado para situações destas?

“Acho que no Campeonato da Europa os protocolos estavam bem detalhados. E, felizmente, correu tudo bem, o que nos deixa muito felizes. Estávamos preparados para uma situação destas, aqui na Dinamarca, mas a verdade é que esta situação poderia ter tido outro desfecho noutro país ou Liga. E essa é a principal reflexão que devemos fazer”. 

Simbiose de esforços entre Médicos, paramédicos e restante staff

“É extremamente relevante todos os membros estarem a par dos protocolos a seguir para cada situação. Por exemplo, os médicos das seleções quando chegam a um país diferente têm de falar com os médicos responsáveis por cada seleção, sendo eles os responsáveis pela operação. Esse é um trabalho importante, e que requer muitos cuidados por parte de todos os intervenientes”.

Caso de Christian Eriksen

“Este caso ocorreu num estádio preparado e organizado, e isso foi muito importante para o Christian. Mas isto nem sempre acontece. Aquilo que aprendemos é que ter as condições e os profissionais devidamente treinados é fundamental. Na Dinamarca, os nossos profissionais têm formações constantes, e isso foi verdadeiramente decisivo”.

“Quanto ao Christian continuar a sua carreira, será sempre uma responsabilidade dele. Não sei se Eriksen pode continuar a jogar futebol, depende muito dele. Se se sentir bem, se estiver feliz, então deverá voltar. Mas depende dele e da família”. 

Materiais essenciais para salvar jogadores

“Um desfibrilhador, maca e profissionais conhecedores dos procedimentos de reanimação. Julgo que no caso de Portugal e Dinamarca, existem os equipamentos necessários, nos principais estádios, para fazerem face a estas eventuais situações de trauma. Pode não ser suficiente, mas assim temos a consciência de que se fez tudo para salvar o jogador. Existem cursos de suporte básico de vida, que são importantes para qualquer pessoa fazer”.

Preparação da FIFA para estas situações

“Jogámos contra a Moldávia esta semana e achámos que o protocolo estava muito bem preparado. Não conheço a qualidade dos hospitais próximos nestes países, pelo que aí haverá sempre um fator de risco, mas creio que, na generalidade, há uma preparação adequada nos jogos internacionais”. 

Importância de fóruns para debater este tipo de situações

“Devemos ter atenção que este é um desporto onde jogam homens e mulheres saudáveis, mas acho que já aprendemos que devemos ter sempre equipamentos necessários para emergências, pois nunca sabemos o que pode acontecer. A FIFA podia realizar conferências sobre isso, mas julgo que cabe à Associação de Médicos locais definir os protocolos”.

Porque continuam a acontecer estes casos?

“Todos vemos que pode acontecer a qualquer um. Realizámos muitos exames, incluindo cardíacos, mas em muitas destas situações nem sequer é detetado qualquer problema. São feitos exames rigorosos, e encontramos a maior parte dos problemas, quando existem, mas muitas situações podem ser impossíveis de detetar”.

O caso do Christian Eriksen tinha alguma ligação com a vacina contra a COVID-19?

“Não tem ligação. O jogador não tinha COVID-19 e não tinha sido vacinado ainda”.  

Importância de os Media falarem sobre estes casos

“Acho que já se fala muito atualmente. Estamos muito focados já e acho que há outras coisas sobre as quais nos podemos debruçar. Na Dinamarca teve enorme repercussão, com imensos voluntários a participarem em cursos da área da cardiologia, bem como um aumento de desfibrilhadores pelos vários locais”.  

Dificuldade em manter o grupo focado para o resto do torneio

“Foi muito difícil. Tivemos ajuda de peritos, até porque cada jogador reagiu de maneira diferente. Depois disto, até eu precisei de falar com especialistas, porque é uma experiência traumática onde criamos imensos cenários na nossa cabeça. Pensei nisto dia e noite, mas tivemos a felicidade de ter imensa ajuda por parte do Governo na Dinamarca”.

Protocolo especial para acompanhar jogadores com COVID-19

“Numa equipa nacional é difícil, pois geralmente colaboramos com os clubes. No máximo podemos encorajar os jogadores a vacinarem-se. Temos um protocolo, mas a decisões de se vacinarem será sempre específica dos jogadores”. 

Experiência com a COVID-19

“Trouxe muitas alterações nos nossos comportamentos e rotinas. Precisámos de adaptar-nos, mas a verdade é que aprendemos a viver com isso e atualmente acho que a situação está muito segura aqui na Dinamarca, apesar de se manterem alguns cuidados que são essenciais”.  

Consequências da COVID-19 nos jogadores

“Acompanhámos cada caso, com testes cardíacos e análises. Tem havido uma enorme colaboração sobre as consequências a longo prazo, mas a verdade é que ainda existe trabalho a decorrer e muitas coisas que ainda não sabemos”.

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