16 de Março de 2023

Webinar discutiu Centralização dos Direitos Audiovisuais

 

 

Tiago Madureira, Diretor Executivo da Liga Portugal, Luís Vicente, Presidente da APEX Capital, e Pedro Brinca, Professor Associado da Nova SBE, marcaram presença num debate moderado pelo comentador António Tadeia

A série de Webinars que antecedem o Thinking Football Summit 2023 teve hoje o pontapé de saída, com um debate sobre a Centralização dos Direitos Audiovisuais que durou cerca de uma hora e meia.

Tiago Madureira, Diretor Executivo da Liga Portugal, explicou que o processo em marcha é irreversível. “Vamos ser muito diretos: discutir a possibilidade de a centralização se realizar é primitivo, nem devia acontecer em Portugal. Vai ser um game changer e o processo mais diferenciador do futebol português nos últimos anos. Não existe caminho alternativo, há um decreto-lei que define que, no pior cenário, acontecerá na temporada 2028-29, que é quando terminam os últimos contratos individuais”, assegura, explicando que “a Centralização dos Direitos Audiovisuais não será o Robin dos Bosques do futebol”, mas que servirá para equilibrar a balança. “Os ativos audiovisuais são extremamente relevantes e o objetivo não é tirar aos que recebem mais para distribuir pelos outros, mas sim que todos possam receber mais e nivelar por cima. Vão existir cláusulas de salvaguarda para que os valores sejam mantidos”, disse.

Já Luís Vicente, Presidente da APEX Capital, concordou com a importância atribuída à Centralização dos Direitos Audiovisuais. “A questão que a centralização permite é que a Liga passa a controlar o destino do produto. Acaba por se definir de uma forma otimizada como é que esse produto pode ser construído e personalizado. Temos de ser capazes de criar produtos que tenham modelos de negócios diferentes”, explica, afirmando que “há margem de crescimento”. “Vários investidores olham para a Liga Portugal como um produto apetecível. A chegada de investidores ao nosso futebol mostra que o nosso futebol pode valer mais. Investidores só investem em setores que possuem valor acrescido”, reforçou.

Por outro lado, Pedro Brinca, Professor Associado da Nova SBE, foi a voz mais cética no debate, levantando alguns receios, apesar de concordar, na generalidade, com o a Centralização dos Direitos Audiovisuais. “Tenho a certeza de que os clubes querem esta Centralização, e o Governo decretou porque os clubes assim decidiram. A minha preocupação, primeiro, tem potencial de mais receita? Tenho a certeza de que a melhoria vai acontecer, mas daí a ter mais receita, tenho algumas dúvidas. Não podemos basear os dados em 2015, temos de ter em conta o momento atual”, afirmou. “Em relação ao processo de centralização tenho a certeza de que existem mais vantagens na sua globalidade do que o processo negocial individual, mas a diferença está nos detalhes. A critica que faço é sobre o tipo de receitas projetadas tendo como base os direitos 2014-15 que é grosseiramente irrealista”, acrescentou.

Tiago Madureira, no entanto, destacou que os Direitos Audiovisuais, apesar de importantes, não são a única fonte de receita, em particular nos clubes de maiores dimensões. “As fontes de receitas dos maiores clubes são alicerçadas nos direitos, mas em termos de percentagem são muito menores do que nos clubes pequenos. As receitas da UEFA hoje têm um impacto muito maior do que os direitos audiovisuais. Reforço, não vamos mexer num euro dos clubes, mas a importância das receitas, que vão duplicar no novo ciclo pós-24, fará com que as assimetrias sejam cada vez maiores”, declarou.

Pedro Brinca, neste âmbito, traçou uma comparação com os Países Baixos. “Esta não é uma competição a um, estamos em duas competições, Europa e Portugal. Porque é que em Portugal, com 10 milhões de habitantes, conseguiu sistematicamente estar à frente no ranking com menos receita do que países como, por exemplo, os Países Baixos? O que está em causa é a competitividade, retirar a verba por uma centralização e redistribuir vai baixar a competitividade internacional”, opinião da qual Tiago Madureira discordou.

“Quando começamos a analisar a lógica do ranking da UEFA, uma vitória na Liga dos Campeões vale o mesmo do que uma na Conference League. Só os bónus de apuramento é que são diferentes. Isso tem feito uma desvirtuação total do ranking. Em 21-22 os Países Baixos fizeram 65% dos pontos na Conference League e nós 61% na Champions. Quantos pontos fizemos na Conference League? Sete pontos, 9%, mas se formos a 22-23, vemos que acontece exatamente o mesmo. Eles têm 17% da Champions, nós temos 77%. 94% dos nossos pontos foram conquistados por quatro clubes. Temos de criar condições para que as outras equipas possam somar pontos. Caso contrário, os principais clubes serão prejudicados”, atirou.

Por fim, Luís Vicente garantiu que “em Portugal temos uma oportunidade única para percebermos como fazer um negócio que seja sustentável para todos os clubes”.

Os Webinars regressam em abril, sendo que estão previstas mais quatro ações: 'Impacto dos custos de enquadramento na competitividade dos clubes’, ‘Importância das associações distritais e regionais na construção de uma Liga com talento’, ‘Apostas Desportivas – Necessidade de revisitar o atual modelo de repartição’ e ‘Criação e retenção de talento no Futebol Profissional – Modelo de sustentabilidade’.

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