08 de Setembro de 2023

Pós-carreira dos jogadores de Futebol em debate no Arena Stage

Patrice Evra, Ricardo Pereira, Joaquim Evangelista e David Aganzo debateram as dificuldades e as oportunidades na altura de pendurar as botas

O Arena Stage do Thinking Football Summit 2023 recebeu uma discussão sobre o pós-carreira e a importância de preparar o mesmo ainda em atividade. O antigo internacional francês Patrice Evra, agora investidor e entrepreneur, Ricardo Pereira, internacional português e jogador do Leicester City FC, Joaquim Evangelista, Presidente do Sindicato dos Jogadores, e David Aganzo, Presidente da FIFPro, enalteceram o papel da educação, do acompanhamento e da preparação dos atletas para uma transição que é, muitas vezes, atribulada, num painel moderado por Luís Vilar.

“Quando vais crescendo, vais ouvindo algumas histórias de jogadores. Umas boas, outras más, mas normalmente fixamos as más. Construíram o seu império, mas depois meteram-se em negócios em que perderam tudo. Tentas ter isso como exemplo para não cometermos os mesmos erros. Para mim surgiu naturalmente”, começou por dizer Ricardo Pereira, que destacou também que, atualmente, “os jogadores têm mais disponibilidade para se formar”.

Patrice Evra, por seu lado, assume que a sua transição foi um sucesso. “Sou mais feliz agora do que quando jogava. Eu sinto que as pessoas só vêm um lado do iceberg. Quando jogava futebol, as pessoas consideravam-me um jogador de futebol, mas agora olham para mim como pessoa. Agora faço um vídeo nas redes sociais e faço a pessoa rir. Isso faz-me mais feliz do que ganhar a Liga dos Campeões”, começou por dizer o antigo vencedor da Champions ao serviço do Manchester United. “Quando jogas futebol, o teu telemóvel toca 100 vezes por dia. Quando acabas a carreira, alguns amigos e até família desaparecem. É um problema social, mas também financeiro. Nem na escola te ensinam como gerir o teu dinheiro. Quando estava a jogar, nunca pensava no que ia fazer depois de terminar a carreira. Vivemos sempre no presente. Não culpo os jogadores. Mas quando acabei, abri um novo capítulo na minha vida. Não é só sobre dinheiro, é sobre a felicidade com que faço. Quando estava a jogar, era um jogador, uma máquina humana. Sinto que agora me estou a redescobrir”, complementou.

Já Joaquim Evangelista destacou que, para o Sindicato dos Jogadores, “a educação é a grande prioridade. Para a Europa, para Portugal e para o desporto em que me revejo. O futebol e a educação andaram de costas voltadas durante muitos anos”. O Presidente daquele organismo revelou ainda que, atualmente, “há muitos ex-jogadores a formarem-se”, e explicou o processo. “Primeiro tens de convencer os jogadores que têm de se qualificar. Temos de lhes incutir que não podem esperar que os outros façam por eles. Têm de assumir as responsabilidades em tudo, contratos, negócios, família, tudo. Tem de ser ativo na sociedade. Muitos jogadores acabam a carreira e não têm seguimento. Temos de falar mais dos jogadores que são exemplos e usá-los como bandeira”, destacou.

Também David Aganzo destacou o papel da educação para os jogadores no que ao pós-carreira diz respeito: “O que tentamos é que os jogadores tenham a facilidade e o entendimento de que a carreira é curta e que têm de se preocupar e preparar para o próximo passo. Em Espanha temos acordos com as universidades para que os nossos jogadores e jogadoras possam focar-se na sua carreira, mas mantendo a mentalidade que em 10 ou 15 anos vão ter de se formar para serem presidentes, diretores, ou o que quiserem”, explicou o líder da FIFPro, abordando também o papel da saúde mental. “É um tema muito importante. Há muitos jogadores que têm problemas mentais porque não se identificam com o que são no pós-carreira”, alertou.

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